A boyband britânica One Direction se apresentou no Estádio do Morumbi no ano passado, em shows que registraram públicos somados de mais de 100 mil pessoas e renderam aos cofres do São Paulo cerca de R$ 3 milhões só em aluguel. Mas, um ano depois, o time tricolor pode ter dor de cabeça e até prejuízo de R$ 620 mil por conta dos eventos.
Tudo porque uma fã, chamada Jéssica Silva, ingressou com ação judicial contra o clube por conta de acidente ocorrido semanas antes do show. Ela alega que, enquanto acampava em busca de entradas, foi atingida por uma placa de ferro do portão 18, que a deixou gravemente ferida. Ainda aponta descaso são-paulino na hora de prestar socorro, pede que o São Paulo lhe pague o tratamento médico e exige indenização.
O processo é de setembro do ano passado, mas foi mais recentemente que a Justiça, por pedido do próprio São Paulo, atribuiu um valor à causa: R$ 620 mil, por conta dos pedidos de pensão vitalícia, danos morais e danos materiais, deixando assim expresso o benefício econômico pleiteado pela fã do One Direction na ação, em decisão da juíza de direito Monica Lima Pereira.
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Entenda o caso
De forma bem resumida, o que Jéssica alega ter passado foi o seguinte: a fã, de 20 anos, diz ter comprado ingressos para o show do One Direction no dia 24 de junho de 2013. Mesmo assim, em 16 de março do ano seguinte - quase dois meses antes do evento, que seria nos dias 10 e 11 de maio -, montou acampamento em frente ao Morumbi em busca de entradas para um lugar mais privilegiado no estádio.
Só que uma forte chuva se iniciou, e uma placa afixada no portão 18 caiu atingindo-a na cabeça e abrindo um corte profundo. A partir daí, os seguranças do Morumbi lhe teriam negado qualquer tipo de socorro. Até que um fã chamado Nicholas "começou a gritar, os seguranças viram uma torrente de sangue jorrando da cabeça de Jéssica, e, diante dessa dantesca cena, deixaram ela ingressar e receber atendimento médico emergencial", conforme alegado na ação.
Em seguida, a menina foi encaminhada ao Hospital Campo Limpo, mas se sentiu desamparada, pois afirma que os seguranças do São Paulo a largaram "à própria sorte, não auxiliando em mais nada, fosse auxílio para comunicar parentes, fosse apoio moral ou logístico". Futuramente, no dia 1 de maio, Jéssica diz ter ido ao Morumbi e conversado com um tal de Senhor Gilson, que teria prometido a ela conhecer pessoalmente a banda do One Direction. "Mentira cruel", apontam os advogados da fã.
No dia do show, contudo, Gilson "sumiu", e Jéssica foi atendida por um tal de "Tubarão". Este teria permitido que a autora entrasse antes da abertura dos portões, mesmo com seus ingressos danificados pela chuva. Apesar disso, a moça alega sofrer desde então com fortes dores de cabeça e teme ter um problema mais grave. Curiosamente, o único documento médico que ela mostra no processo é um atestado de apenas dois dias de licença do trabalho por motivo de doença.
A defesa do São Paulo
Em sua defesa, o São Paulo ironiza várias alegações da fã. Diz que Jéssica "estava acampada há muito mais tempo do que os dois meses que antecederam a data do show, confessados em sua inicial, em absoluto ato de irresponsabilidade e sob a conivência dos pais, deixando de lado escola e emprego para morar em uma barraca montada na via pública, exposta a toda sorte e infortúnio, às intempéries, e exposta à violência das noites nas ruas de São Paulo".
Além disso, o departamento jurídico do time tricolor avisa que não foi o organizador do show, cedendo apenas o espaço. E ainda que, no dia 16 de março, caiu uma forte chuva na capital paulista que até tombou uma árvore em frente ao Morumbi e interrompeu o jogo entre São Paulo e Ituano por conta de tempestade de granizo. Dessa forma, a agremiação se defende por não poder se tornar responsável pelas forças da natureza.
"São no mínimo dois meses confessados morando na rua. E tudo isso para que uma adolescente de 20 anos pudesse assistir a um show musical de um ângulo mais favorável, pois os ingressos por ela adquiridos já serviam para acomodar a autora nos melhores locais do estádio. O SPFC lamenta profundamente o ocorrido. Mas não tem responsabilidade alguma sobre fatos ocorridos nas vias públicas próximas ao seu estádio, e muito menos sobre os eventos da natureza", comunica o clube.
"Enquanto a força dos ventos e da chuva provocavam quedas de árvores, destruição, alagamentos e inundações na região próxima ao estádio, a autora da ação permanecia, com a autorização e despreocupação dos pais, em sua barraca, acampada na frente do estádio à espera de um show que ocorreria dali há dois meses", continuam os advogados são-paulinos.
Justiça decidiu valor de R$ 620 mil
Após atribuir o valor de R$ 620 mil à causa, a Justiça solicitou às partes que produzissem provas e se tinham interesse na designação de audiência de conciliação. Jéssica pediu depoimentos de testemunhas, de seu representante legal, um ofício ao Hospital Campo Limpo e também pretende encontrar o tal "Tubarão" para chamá-lo como testemunha.
O São Paulo, por sua vez, "acreditando em sua absoluta ausência de responsabilidade, manifesta seu desinteresse em entabular eventual conciliação", mas se colocou à disposição se o Tribunal assim achar necessário. A Justiça ainda deve marcar um julgamento.
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